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lecool

15 de julho de 2012

' embaciado ' até LER

tropeço lá, a 7 de julho de 2012

"Nos teus olhos altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz dos ombros pura e a sombra
duma angústia já purificada

Não tu não podias ficar presa comigo
à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensanguentada que vacila
quase medita
e avança mugindo pelo túnel
de uma velha dor

Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver

Não podias ficar nesta casa comigo
em trânsito mortal até ao dia sórdido
canino
policial
até ao dia que não vem da promessa
puríssima da madrugada
mas da miséria de uma noite gerada
por um dia igual

Não podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta pequena dor à portuguesa
tão mansa quase vegetal


tropeço uma vez mais lá, a 10 de julho de 2012

Mas tu não mereces esta cidade não mereces
esta roda de náusea em que giramos
até à idiotia
esta pequena morte
e o seu minucioso e porco ritual
esta nossa razão absurda de ser

Não tu és da cidade aventureira
da cidade onde o amor encontra as suas ruas
e o cemitério ardente
da sua morte
tu és da cidade onde vives por um fio
de puro acaso
onde morres ou vives não de asfixia
mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
sem a moeda falsa do bem e do mal

Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti" ~ ao'  Um Adeus Português


para continuar a tropeçar até cair definitivamente

6 de julho de 2012

' a mad tea party '

Ó Chá, Alvade, a 23 de junho de 2012

"uma alegria que não procura palavras porque o seu reino não é o da expressão. Digamos que esta nova experiência, a que não quero dar nome, não se preocupa em interrogar,
talvez por já não ser tempo de dúvidas, ou então por não lhe dizerem respeito essas verdades últimas, cegas como facas." ~ e.a.

~

A história alegre de quem, ficou condenada à dança de uma fábula, num eterno e imaginário, chá das cinco.



5 de julho de 2012

mar a ~

praça do martim moniz, a 9 junho de 2012

" Cheira a mar. Respiras suavemente, ondulando a pele ao mínimo toque. Atiro uma pedra e os meus dedos tocam-te três vezes no corpo, até caírem na tua boca, depois de outra onda. Salpicos de poesia murmurados ao ouvido, indo e vindo, enchendo a maré, transbordando amor ou outra coisa tão boa como esta, de estar aqui, contigo. Sinto o cheiro do cais subir a rua, do horizonte até aqui, onde está o teu perfume, o aroma dos teus olhos. Uma investida sobre ti e as gaivotas voam rasando a água, ameaçando pousar, insinuando, finjo beijar-te desinteressadamente.

Do mar aqui, de ti a mim, uma avenida marginal, tapada por casas, por roupa que queremos arrancar, que impede o vento de circular, a nós de respirar. O sol aquece-te, junto a mim, enrolados numa manta, na névoa que se levanta, no ecoar dos passos, das batidas do coração incontidas e descontroladas, lançando sangue na rua como alma nas veias..
Assim como um estranho, vindo do outro lado da rua, cheguei à tua margem convidando-me a entrar, sem saber o teu nome. A tua casa, branca, cheira a mar, a tua alma ocre, pele ousada, colou-me aos olhos tristes por nada. Enrolados na cama, nos ferros da tua varanda, esperando que me perdesse, deixei-me dominar. Entreguei-me para que fosses minha. Nem com a manhã deixaria de ser teu."
~ daniel costa-lourenço

leio-te.

'mas eu perdi a chave de todos os cadernos'


Chef Nino, Lx Factory, no dia 2 de junho de 2012


"Há quem escreva diários   há quem
rigorosamente saiba
o que fez     o que escondeu    o que disse ou calou
a 7 de fevereiro    a 11 de maio    a 17 de junho
e esteja disposto a jurar
pela bíblia    pela Amália    pelo Eusébio
que nunca invocou em vão o nome do homem amado
nem mesmo naquelas noites que duram
muito mais que as luas nas janelas

(...) mas agora cheguei a um tempo em que

(...) e tudo se desenha nas cruas linhas da agenda
sem necessidade de juras   e com o rigor
de todos os substantivos com que
assepticamente assinalo o que fiz
por exemplo
a 7 de fevereiro   a 11 de maio   a 17 de junho (...)" ~ av


crepe, sorbet de limão e topping de chocolate negro.